Você já se olhou no espelho e sentiu que a pessoa refletida não corresponde à força que você sabe que tem por dentro? Essa desconexão entre quem somos e como nos vemos é um desafio comum, especialmente quando a rotina nos engole e a autocrítica fala mais alto. Muitas vezes, buscamos soluções complexas para um problema que pode começar a ser resolvido com um passo simples: o movimento.
Se você se sente preso em um ciclo de baixa autoconfiança e quer uma saída prática e eficaz, este guia foi feito para você. Aqui, vamos explorar não apenas os exercícios, mas a profunda conexão entre a atividade física e uma autoestima inabalável. Vamos mostrar como cada gota de suor pode lavar a insegurança e como cada meta alcançada no treino se traduz em uma vitória para sua mente. Prepare-se para descobrir um caminho que fortalece o corpo e, principalmente, blinda a sua percepção de si mesmo.
A Ciência Por Trás do Sorriso Pós-Treino a Conexão Mente-Corpo
Sabe aquela sensação? Aquela que vem depois de um treino que te deixou pingando, ou mesmo depois de uma longa caminhada no parque. O corpo pode até estar cansado, meio moído, mas a mente… a mente está estranhamente clara. Leve. Você se joga no sofá, respira fundo e, sem querer, um sorrisinho escapa. Já parou pra pensar que isso não é só alívio por ter acabado? Cara, isso é neurociência pura acontecendo em tempo real dentro da sua cabeça.
É uma conversa silenciosa e poderosa entre seus músculos e seu cérebro. E entender essa conversa é o primeiro passo para usar o movimento como a ferramenta de autoestima mais potente que você tem à disposição. Porque, veja bem, quando você move o corpo, você não está só queimando calorias. Você está, literalmente, preparando um coquetel químico da felicidade.
Vamos desmistificar isso. Quando você se exercita, seu cérebro abre o bar. O primeiro drink que ele serve são as famosas endorfinas. Pense nelas como o analgésico e o euforizante natural do seu corpo. Sabe aquela impressão de que a dor some no meio do treino? É a endorfina agindo. Ela cria uma sensação de bem-estar, quase uma euforia leve — o famoso “barato de corredor”, que, aliás, não é exclusivo da corrida. É o primeiro sinal do seu cérebro dizendo: “Opa, gostei disso aqui, continue”.
Logo em seguida, entra em cena a dopamina. Ah, a dopamina. Ela é o neurotransmissor do sistema de recompensa. É a molécula da motivação. Cada pequena vitória no seu treino — aguentar mais um minuto na esteira, levantar aquele peso que parecia impossível, completar uma série — libera uma dose de dopamina. É seu cérebro te dando um tapinha nas costas e falando: “Isso! Mandou bem! Lembre-se dessa sensação”. E é por isso que o exercício pode ser tão… viciante, no bom sentido. Você começa a buscar essa sensação de dever cumprido.
E não para por aí. Temos também a serotonina, o estabilizador de humor. Níveis mais altos de serotonina estão ligados a sentimentos de calma, importância e felicidade, enquanto níveis baixos estão associados à depressão e ansiedade. A atividade física regular ajuda a regular e aumentar a produção de serotonina, agindo como um antidepressivo natural. E por último, mas talvez o mais surpreendente, temos os endocanabinoides. Sim, o nome parece familiar por um motivo. Eles são compostos produzidos pelo nosso próprio corpo que agem em receptores similares aos da cannabis. Eles contribuem para aquela sensação de calma, de redução da ansiedade e da dor, criando um estado de pura tranquilidade mental pós-treino.
Então, esse sorriso não é bobagem. É a evidência de uma sinfonia química perfeitamente orquestrada para te fazer sentir bem. Mas a mágica, a verdadeira mudança de mentalidade, vai além da química.
Ela entra no campo da psicologia, com um conceito poderoso chamado autoeficácia. Confesso que, quando ouvi esse termo pela primeira vez, achei que era papo de coach. Mas a verdade é que é uma das coisas mais concretas e transformadoras que existem. Autoeficácia é, em bom português, a sua crença na sua própria capacidade de executar tarefas e alcançar objetivos. É o “eu consigo” internalizado. E o exercício é o campo de treinamento perfeito para isso.
Quando você, que nunca correu, se propõe a correr por 1 minuto sem parar… e consegue. Na semana seguinte, se propõe a correr por 2… e consegue. Depois 5. Depois 10. Cada um desses pequenos marcos não é só um marco físico. É uma prova. Uma evidência irrefutável, para a sua mente, de que você é capaz de definir uma meta e alcançá-la. Você está, literalmente, construindo uma nova narrativa sobre si mesmo.
Essa crença não fica restrita à academia ou à pista de corrida. Ela vaza. Ela transborda para todas as outras áreas da sua vida. Aquela apresentação no trabalho que parecia um monstro de sete cabeças? Bom, se você conseguiu levantar 50 quilos do chão, talvez uma apresentação não seja tão assustadora assim. Aquela conversa difícil que você vem adiando? A disciplina que você construiu para treinar mesmo sem vontade te dá a força para enfrentá-la. Você, pessoalmente, começa a acreditar que pode superar desafios. Porque você tem provas concretas e diárias disso. Sacou? Não é pensamento positivo. É resultado comprovado.
O Poder dos Pequenos Começos
E é aqui que muita gente trava. “Ah, mas eu odeio academia”, “Não tenho tempo”, “Não sou atleta”. Galera, vamos com calma. A beleza da autoeficácia é que ela não exige feitos hercúleos. Muito pelo contrário. Aliás, falando nisso, eu mesmo já caí nessa armadilha de achar que precisava fazer treinos super intensos pra ter algum resultado, e sabe o que aconteceu? Desisti em duas semanas. O segredo está nos pequenos começos.
Não se trata de virar maratonista da noite para o dia. Trata-se de quebrar o ciclo da inércia. Uma caminhada de 15 minutos no seu bairro. Uma sessão de alongamento de 10 minutos pela manhã. Fazer alguns exercícios simples em casa. E pra quem não sabe por onde começar com isso, existem guias ótimos de calistenia em casa para iniciantes que usam só o peso do corpo. O importante é o ato. O ato de decidir, se vestir e fazer. Esse é o gatilho para toda a cascata positiva que descrevemos.
Cada pequeno movimento é uma vitória. Cada passo é um voto de confiança em si mesmo.
Pra fechar essa parte científica, precisamos falar do vilão da história: o cortisol. Esse é o famoso hormônio do estresse. Em doses normais, ele é útil. Mas no mundo de hoje, com pressão constante, a gente vive com ele nas alturas. O resultado? Mente nublada, ansiedade, dificuldade de concentração e aquela ruminação mental que não para. Sabe quando você deita a cabeça no travesseiro e fica repassando uma conversa ou um problema mil vezes? Culpa do cortisol.
O exercício físico, especialmente os aeróbicos como caminhar, correr ou dançar, é uma das formas mais eficientes de “queimar” o excesso de cortisol. É como se você estivesse, literalmente, esgotando a energia do estresse. O resultado é uma clareza mental quase imediata. A mente se acalma, o ruído diminui e você consegue pensar com mais clareza e menos negatividade.
No fundo, o que estamos discutindo aqui é uma reprogramação. É entender que seu corpo não é só um veículo que carrega sua cabeça por aí. Eles são um sistema integrado. Mover seu corpo é uma das formas mais diretas e primitivas de conversar com seu cérebro, de enviar uma mensagem clara: “Eu estou no controle. Eu sou forte. Eu sou capaz”.
Este é o ‘porquê’. O fundamento. Entender isso é crucial, porque transforma o exercício de uma obrigação penosa em um ato de autocuidado e fortalecimento. E agora que você entende o que acontece por trás das cortinas, no próximo capítulo, vamos para a parte prática. Vamos descobrir juntos como encontrar o seu movimento, aquele que faz você sorrir não só no final, mas durante o processo também.
Encontrando Seu Movimento: um Guia Prático para Iniciantes e Céticos
Vamos ser sinceros. Se você chegou até este capítulo, provavelmente já passou por aquela fase de se matricular na academia em janeiro, ir três vezes, e depois só voltar pra cancelar o plano. Ou talvez você seja do time que olha para aquelas pessoas que acordam às 5 da manhã pra correr e pensa: “essa galera não bate bem da cabeça”. Eu entendo. De verdade. A gente é bombardeado com uma imagem de “fitness” que é, na maioria das vezes, intimidadora, excludente e, vamos combinar, bem chata.
Por isso, este capítulo é o nosso pacto. Um acordo entre nós para jogar fora o manual de regras que nunca funcionou.
Esqueça o “Certo”, Encontre o “Seu”
A primeira coisa que a gente precisa tatuar na mente é: não existe “o” exercício certo. Ponto. Essa ideia de que só musculação pesada ou treinos HIIT de chorar no chão são eficazes é o maior mito que a indústria fitness já vendeu. É uma mentira que serve para um único propósito: fazer você se sentir inadequade e, consequentemente, comprar mais uma solução milagrosa.
O que acontece é que, quando você se força a fazer algo que odeia, seu cérebro associa movimento com punição. Com obrigação. E ninguém, em sã consciência, mantém um hábito que parece um castigo diário. Lembra do que a gente conversou no capítulo anterior sobre o coquetel químico positivo que o cérebro libera? Pois é. Forçar uma atividade detestável é como tentar fazer um bolo delicioso usando sal no lugar do açúcar. A receita simplesmente não funciona.
A verdadeira virada de chave — e o segredo para a consistência que constrói a autoestima — é encontrar algo que você genuinamente curta. Ou, pelo menos, que não deteste profundamente. O movimento precisa ser uma fonte de prazer, de alívio, de descoberta. Uma conversa com seu corpo, não uma briga. O melhor exercício é aquele que você faz. Simples assim.
Então, a pergunta muda. Deixa de ser “o que eu deveria estar fazendo?” para “o que meu corpo e minha mente estão pedindo hoje?”.
Talvez hoje eles peçam calma. Talvez amanhã peçam barulho. E tá tudo bem.
Para os que Buscam Calma e Conexão
Se a sua vida já é um caos de notificações, prazos e barulho, talvez a última coisa que você precise seja de um ambiente com música alta e gente gritando. Para você, o movimento pode ser um refúgio, um oásis de tranquilidade.
- Yoga: Muito além de posturas complexas, a yoga é uma prática de unir respiração, corpo e mente. O ganho de autoestima aqui não vem de conseguir colocar o pé atrás da cabeça, mas sim da jornada. De perceber, semana após semana, que você consegue se equilibrar um pouco mais, se alongar um milímetro a mais, ou simplesmente silenciar a mente por dois minutos seguidos. É uma vitória íntima e poderosa.
- Pilates: Com foco no “core” — o centro de força do nosso corpo —, o Pilates constrói uma força silenciosa e profunda. A autoestima floresce à medida que você sente seu corpo mais estável, sua postura mais ereta. É um sentimento de estar, literalmente, mais “estruturado” e no controle.
- Tai Chi Chuan: Muitas vezes descrito como “meditação em movimento”, o Tai Chi é uma arte marcial de movimentos lentos e fluidos. O benefício aqui é a concentração serena. Você aprende a mover-se com intenção e graça, o que se traduz em uma confiança mais calma e centrada no dia a dia.
Para os que Precisam Extravasar Energia
Agora, se você está com a energia acumulada de uma panela de pressão prestes a explodir, a abordagem é outra. Você precisa de um canal para liberar essa tensão, esse estresse, essa raiva contida. E, cara, isso é terapêutico.
- Dança: Seja numa aula de Zumba, FitDance ou simplesmente sozinho na sala com fones de ouvido no talo. Dançar é liberdade pura. Não existe certo ou errado. O ganho de autoestima é imediato: você se permite ser bobo, ser sensual, ser expressivo. Você se apropria do seu corpo e do seu espaço de uma forma que poucas atividades permitem.
- Boxe/Artes Marciais: Calçar as luvas e socar um saco de pancadas é, talvez, uma das formas mais catárticas de exercício. Confesso que, pessoalmente, sou fã. A autoestima aqui vem da sensação de poder e competência. Você não está brigando com ninguém; está canalizando sua força, aprendendo a se defender, transformando frustração em foco. É visceral.
- Spinning (Ciclismo Indoor): Luzes, música alta, um instrutor te guiando numa jornada de subidas e corridas insanas. O spinning é sobre superação coletiva. Você sofre junto, celebra junto. A autoestima vem de sobreviver àquele sprint final, de terminar a aula encharcado e exausto, mas com a certeza de que você é muito mais forte do que pensava cinco minutos antes.
Para os Amantes da Natureza
Tem gente que simplesmente murcha entre quatro paredes. Se você é uma dessas pessoas, usar o maior ginásio do mundo — o ar livre — é o caminho mais óbvio e prazeroso.
- Trilha (Hiking): Conquistar uma montanha, por menor que seja, é uma metáfora poderosa para a vida. Cada passo, cada subida íngreme, é um desafio superado. A recompensa? Uma vista incrível e a sensação avassaladora de “eu consegui”. A autoestima é construída a cada obstáculo natural vencido.
- Corrida no Parque: Correr não precisa ser sobre maratonas. Pode ser sobre colocar um tênis e dar um trote leve em volta de um lago. O benefício, além do cardio, é a mudança de cenário, o sol no rosto, o vento. Aliás, se você se interessa, já escrevi um pouco sobre os benefícios incríveis da corrida para a saúde. É uma forma de limpar a mente enquanto fortalece o corpo.
- Ciclismo: Explorar a cidade ou estradas de terra sobre duas rodas te dá uma sensação de autonomia e aventura. A autoestima vem da distância percorrida, da capacidade de ir mais longe usando a própria força.
Para os que Preferem a Praticidade de Casa
Intimidação de academia? Falta de tempo? Preguiça de se deslocar? Sem problemas. Sua casa pode ser seu estúdio de bem-estar particular. E, olha, essa foi a solução para mim em muitos momentos.
- Treinos Online: O YouTube e os aplicativos de fitness são um universo infinito de opções. De treinos de 10 minutos a aulas completas de 1 hora. O poder aqui é a escolha e a conveniência. Você pode experimentar de tudo, no seu ritmo, sem ninguém te olhando. A autoestima vem da consistência que essa praticidade permite.
- Calistenia: Usar o peso do próprio corpo para se exercitar. Flexões, agachamentos, pranchas. É minimalista, gratuito e surpreendentemente eficaz. O ganho de autoestima é muito claro: você se torna a sua própria academia. Ver seu corpo se tornar capaz de realizar movimentos que antes pareciam impossíveis é uma das formas mais puras de construir autoconfiança. Por falar nisso, eu mesmo me empolguei e escrevi um guia de calistenia em casa para iniciantes, porque acredito muito no poder dessa simplicidade.
Para te ajudar a visualizar melhor, preparei uma tabela bem simples. Pense nela como um cardápio, não como uma sentença.
Atividade | Custo Estimado | Nível de Interação Social | Foco Principal (Força/Cardio/Flex.) |
---|---|---|---|
Yoga / Pilates | Baixo a Médio (online/estúdio) | Baixo a Médio | Flexibilidade, Força |
Tai Chi Chuan | Baixo a Médio | Médio | Flexibilidade, Equilíbrio |
Dança (aula/casa) | Gratuito a Médio | Alto (aula) / Nulo (casa) | Cardio, Coordenação |
Boxe / Artes Marciais | Médio a Alto (academia) | Alto | Força, Cardio |
Spinning | Médio a Alto (academia) | Alto | Cardio |
Trilha / Corrida no Parque | Gratuito a Baixo (equip.) | Baixo a Médio (grupos) | Cardio, Força (pernas) |
Ciclismo | Médio (bicicleta) | Baixo a Alto | Cardio, Força (pernas) |
Treinos Online | Gratuito a Baixo (apps) | Nulo a Baixo (comunidades) | Variado |
Calistenia | Gratuito | Nulo | Força, Flexibilidade |
Ok, você já viu o “cardápio”. Mas como fazer o primeiro pedido e, mais importante, continuar frequentando o “restaurante”?
5 Passos para Começar (e Não Parar)
Defina um micro-objetivo realista. Esqueça o “vou treinar 1 hora todo dia”. Isso é receita para o fracasso. Comece com algo tão pequeno que pareça ridículo não fazer. Exemplo: “Vou caminhar por 15 minutos, 3 vezes por semana, depois do almoço”. Ou “Vou fazer aquela aula de 10 minutos de alongamento no YouTube toda terça e quinta”. Conquistar esse micro-objetivo te dá a dose de dopamina e autoeficácia que a gente falou antes. É o que cria o impulso.
Agende o exercício como um compromisso inadiável. Sério. Coloque na sua agenda do Google, no seu planner, onde for. Trate esse tempo como uma reunião com a pessoa mais importante da sua vida: você. Não é “se sobrar tempo”. É um horário bloqueado. Se o CEO da sua empresa te chamasse para uma reunião, você não iria? Então. Você é o CEO da sua própria vida.
Prepare sua “armadura de confiança”. Pode parecer superficial, mas funciona que é uma beleza. Separe roupas e um tênis que te façam sentir bem, preparado, pronto para a ação. Não precisa ser a roupa mais cara da loja. Precisa ser algo que, ao vestir, mude seu estado mental. É o seu uniforme de super-herói. Ele não te dá o poder, mas te lembra que você o tem.
Crie uma playlist motivacional. Música tem o poder de sequestrar nosso cérebro e mudar nosso humor instantaneamente. Crie uma playlist específica para o seu momento de movimento. Pode ser rock, pop, funk, música clássica… o que quer que faça seu sangue ferver e te dê vontade de se mexer. É a sua trilha sonora pessoal de superação.
Encontre um parceiro de treino ou comunidade online. A gente é bicho social. Ter alguém pra compartilhar as vitórias (e as preguiças) faz uma diferença brutal. Pode ser um amigo, um grupo de WhatsApp, um fórum na internet. Essa rede de apoio cria um senso de responsabilidade e pertencimento. Saber que alguém vai perguntar “E aí, rolou o treino hoje?” pode ser o empurrãozinho que faltava.
Agora você tem o mapa. Você tem as opções, tem a estratégia. O próximo passo não é se tornar um atleta olímpico da noite para o dia. É apenas… dar o primeiro passo. Experimentar. Ser curioso. E, acima de tudo, ser gentil com você mesmo durante o processo.
Lembre-se, o objetivo inicial não é transformar seu corpo, mas sim mudar como você se sente dentro dele. O resto… o resto vem como consequência. E no próximo capítulo, vamos afiar a nossa principal ferramenta para essa jornada: a mente. Vamos aprender a blindá-la contra a autocrítica e manter essa chama da motivação acesa, mesmo nos dias mais difíceis.
Blindando a Mente: Estratégias para Superar a Autocrítica e Manter a Motivação
Ok, vamos ser sinceros aqui. Você leu o capítulo anterior, se empolgou, talvez até já tenha feito sua primeira aula de dança ou sua primeira caminhada no parque. Rolou aquela euforia inicial, aquele sentimento de “agora vai!”. E aí… bom, aí a vida real acontece. A mente, essa nossa companheira de jornada que às vezes parece mais uma inimiga, começa o seu trabalho de sabotagem.
Começa com uma olhadinha despretensiosa no Instagram. Pronto. A armadilha tá montada. Você vê aquela influenciadora com o abdômen trincado falando que o segredo é “só ter foco”, enquanto você ainda tá tentando descobrir como não morrer de dor no dia seguinte a 15 minutos de agachamento. A comparação é um veneno, cara. E a gente bebe como se fosse água, sem nem perceber. A gente se compara com um ideal que, na maioria das vezes, nem é real. É uma foto com o melhor ângulo, a melhor luz, depois de horas de produção e, quem sabe, uns truques de edição. Comparar o nosso bastidor com o palco dos outros é, sei lá, a receita mais rápida para o desastre da autoestima.
É aqui que a maioria das pessoas desiste. Não pelo cansaço do corpo, mas pelo esgotamento da mente. É o crítico interno gritando que “não tá funcionando”, que “você não leva jeito pra isso”, que “seu corpo não muda”. E a gente, no fundo, acaba acreditando.
Mas e se eu te disser que o problema não é você? O problema é a régua que você tá usando pra se medir.
Mude a Métrica do Sucesso
Vamos fazer um pacto? A partir de hoje, a gente vai jogar fora a fita métrica e a balança. Quer dizer, não literalmente (às vezes elas são úteis para dados de saúde, mas não para medir valor pessoal), mas vamos tirar o poder que elas têm sobre o nosso humor e nossa motivação.
A grande virada de chave, o que realmente sustenta o hábito a longo prazo, é mudar a métrica do sucesso. É parar de focar no que é puramente estético e externo — “preciso perder 5 quilos”, “quero ter a barriga chapada” — e começar a celebrar o que acontece por dentro. As vitórias que só você sente.
Pense nisso: o seu corpo é uma máquina incrível que está se adaptando e ficando mais forte a cada dia que você se move. A métrica do sucesso não deveria ser um número numa balança, mas sim a sensação de poder. É trocar o “perdi peso” pelo “aumentei minha força”. É trocar o “minha cintura não diminuiu” pelo “hoje eu sinto muito mais energia pra brincar com meus filhos”. É trocar a frustração de não ver o “resultado” no espelho pela alegria de ter completado o treino sem desistir, mesmo num dia difícil.
Sacou a diferença? Uma métrica te aprisiona. A outra te liberta. Uma te pune. A outra te celebra. Quando você foca no desempenho, na sensação, na sua capacidade, a autoestima vem como consequência natural. Ela não é mais o objetivo final, mas o efeito colateral de um processo que você aprendeu a amar.
Claro, falar é fácil. Na prática, como a gente faz pra calar essa voz chata da autocrítica e manter o motorzinho da motivação ligado? Bom, não tem mágica. Mas tem estratégia.
Estratégias para uma Mentalidade de Aço
Construir resiliência mental é como treinar um músculo. No começo é difícil, dói, e você mal vê resultado. Mas com consistência, ele fica mais forte do que você jamais imaginou. Aqui vão algumas ferramentas práticas pra você começar a sua “musculação mental”:
Pratique a gratidão pelo seu corpo: Parece papo de autoajuda barata, mas, mano, isso funciona. Antes de começar a se exercitar, ou no fim do dia, pare por um instante. Em vez de xingar a celulite ou a flacidez, agradeça. Agradeça suas pernas por te levarem aos lugares. Agradeça seus pulmões por te encherem de ar. Agradeça seu coração por bater sem que você precise pedir. Seu corpo é o veículo que te permite viver experiências. Agradeça pelo que ele consegue fazer hoje, agora. Essa pequena mudança de foco de “o que falta” para “o que eu já tenho” é revolucionária.
Diário de Conquistas: Não precisa ser nada elaborado. Pode ser um bloco de notas no celular ou um caderninho velho. Todo santo dia, anote uma pequena vitória. Qualquer vitória. “Hoje consegui subir três lances de escada sem ficar ofegante”. “Consegui abrir aquele pote de palmito que estava emperrado”. “Fiz 5 flexões com o joelho no chão”. Ou até: “Hoje eu me olhei no espelho e não me critiquei”. Registrar esses pequenos sucessos cria um dossiê de evidências contra o seu crítico interno. Quando ele disser que você não é capaz, você terá provas concretas de que ele está mentindo.
A Regra dos 2 Minutos: Essa aqui é matadora para os dias de preguiça total. Sabe aquele dia chuvoso e frio em que a única coisa que você quer é ficar no sofá? Nesses dias, o maior obstáculo é a inércia, é o simples ato de começar. Então, negocie com seu cérebro. Diga a ele: “Ok, não vou fazer o treino completo. Vou fazer só 2 minutos”. Coloque a roupa, o tênis, e faça só 2 minutos de polichinelos, ou de exercícios de calistenia em casa que você já conhece. O que acontece quase sempre? Depois que você começa, a inércia é quebrada e a chance de você continuar por mais 5, 10, ou até 20 minutos é gigantesca. E se não continuar? Tudo bem! Você cumpriu sua meta de 2 minutos. Você venceu a preguiça. Ponto.
Visualize o Sucesso: Antes de amarrar o tênis, feche os olhos por 30 segundos. Não é meditação transcendental, é só um ensaio mental. Visualize-se fazendo o movimento, sentindo a força nos músculos. Mais importante: visualize a sensação depois do treino. Aquele orgulho gostoso, a sensação de dever cumprido, a endorfina pulsando. Criar essa imagem positiva na mente prepara seu corpo e seu espírito para o que está por vir. É como dar um spoiler positivo para o seu cérebro.
Aprenda a Descansar, Não a Desistir: Isso é fundamental. A cultura do “no pain, no gain” nos fez acreditar que temos que nos destruir todos os dias. Isso não só é insustentável como é perigoso. Seu corpo precisa de descanso para se recuperar e construir músculos. Aprender a diferenciar o cansaço real (dor muscular, exaustão) da preguiça (desânimo, falta de vontade) é uma arte. Descansar não é sinal de fraqueza; é parte crucial da estratégia. É inteligência. Se você se sentir culpado por tirar um dia de folga, lembre-se: o descanso é tão importante quanto o treino. Aliás, já até escrevi sobre se é preciso treinar todos os dias lá no blog, porque essa dúvida é super comum.
O Poder do Agora: Mindfulness no Movimento
Além dessas estratégias, tem uma ferramenta que você pode usar durante o exercício para silenciar o barulho mental: o mindfulness, ou a atenção plena.
Em vez de fazer seu treino pensando na lista do supermercado, nas contas a pagar ou se o seu abdômen já está aparecendo, traga sua atenção para o corpo. Para o agora. Sinta de verdade o contato dos seus pés com o chão a cada passo na esteira. Preste atenção na sua respiração — o ar entrando, o ar saindo. Sinta a contração do músculo que você está trabalhando. Sinta o suor escorrendo. Quando a mente começar a divagar e o crítico interno pegar o microfone, simplesmente, e sem julgamento, traga o foco de volta para a sensação física. Para o movimento.
Isso faz duas coisas incríveis: primeiro, te ancora no presente, o único lugar onde a vida realmente acontece. Segundo, transforma o exercício de uma punição ou obrigação em uma meditação em movimento. Uma chance de se reconectar com seu corpo, de ouvir o que ele tem a dizer. É uma forma poderosa de dizer para a sua mente: “Ei, agora quem está no comando sou eu e o meu corpo. Fica quieto aí um pouco”.
No final das contas, e talvez isso seja o mais importante de todo este artigo, a motivação não é um raio que cai do céu. Não é algo que você tem ou não tem. Confesso que eu mesmo não acordo todos os dias super animado pra treinar. Longe disso.
A motivação é um músculo. E, como qualquer músculo, ela se fortalece com a prática diária. Cada vez que você usa uma dessas estratégias — seja agradecendo pelo seu corpo, anotando uma vitória ou simplesmente se comprometendo com 2 minutos — você está fazendo uma repetição no seu “treino de motivação”.
Não espere sentir vontade para agir. Aja para sentir vontade.
Mova seu corpo. E veja, dia após dia, a sua mente se blindar e se transformar junto com ele.